Sobre mim

Professora de formação. Viajante de coração.
Meus caminhos pelo mundo são feitos de história, poesia e felicidade. Descubro lugares e me descubro através das viagens.
Como diz o velho ditado: A gente só leva da vida a vida que a gente leva.

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Uma cidade mágica


Saudações!

Conservatória é o tipo de lugar que você vai a primeira vez por curiosidade e depois nunca mais consegue deixar de ir! Talvez pela sua aura de cidade do interior, talvez pela hospitalidade das pessoas ou ainda porque lá é possível esquecer qualquer problema ou estresse vividos no dia a dia das grandes cidades (cabe dizer que o distrito é a prova da veracidade do provérbio : "quem canta seus males espanta").

A primeira vez que estive lá foi no inverno de 2000. Eu e meu, então, marido tínhamos recebido várias indicações de parentes e amigos sobre o local. Pulsava em nós aquela curiosidade quase juvenil de ver como seria uma cidade em que ainda existiam serenatas ao luar e onde a maioria da população já estava na terceira idade e era até mais ativa que nós. Fomos sem pousada reservada, assim, com a cara, a coragem e a crença de que não seria difícil arranjar lugar para pernoitar. Ledo engano! (Aqui vai um conselho: reserve antes uma pousada, pois hoje em dia, você pode não ter a mesma sorte que eu tive há 8 anos atrás)

Chegamos numa sexta-feira no horário do almoço, demos uma volta pela cidade (aqui leia-se: percorremos as duas ruas, uma que vai e outra que volta) e escolhemos o simpático restaurante "Dó, Ré, Mi" para saciar nossa fome. Uma comida deliciosa! E uma calma e simpatia no atendimento que só é possível em locais em que "pressa" é apenas uma palavra no dicionário.
Devidamente alimentados fomos procurar um local onde pudéssemos deixar nossas malas (na verdade era apenas uma) e descansar um pouco antes da grande atração noturna da cidade.
Entramos em várias pousadas para perguntar se havia vaga. Nenhuma! Estávamos a ponto de chorar por ter de voltar para casa sem pouso quando alguém nos indicou uma pousada "um pouco mais longe". Esse "longe" era no máximo uns 300, 400 metros do centro. Lá fomos nós ao encontro daquela que acabaria por se tornar minha casa em Conservatória: a "Pousada Martinez". Um local simples, mas de ambiente extremamente acolhedor! O nome da pousada vem de seu dono, Sebastião Martinez, que não só administra como também mora na pousada. Ele e sua família. Provavelmente é isso que traz o tom tão aconchegante do lugar, é como se estivéssemos mesmo morando com aquela família!
O quarto é bem simples, com uma cama de casal, um frigobar que pode ser abastecido pelo próprio hóspede, uma TV que pega 3 ou 4 canais ( pra que mais? Se eu quisesse ver TV teria ficado em casa, não acha?) e um banheiro limpo com um chuveiro bem quente!

Hoje em dia, passados 8 anos, a pousada mudou um pouco, fez algumas reformas e conta com piscina, uma grande sala de TV e um espaçoso refeitório para o delicioso café da manhã acompanhado de um músico que toca chorinho para o deleite matutino dos hóspedes, mas disso eu falarei em outro post.

Após preenchermos a ficha de entrada e deixarmos a bagagem no quarto, fomos novamente para a cidade dar uma volta. Existem diversas lojas de artesanato, quase uma ao lado da outra! Muitas parecem casas e às vezes você tem a sensação de estar invadindo propriedade privada ao entrar em alguma lojinha (uma vez, porém, invadimos mesmo! A casinha era tão bem decorada que quando nos demos conta a dona estava sorrindo, quase nos oferecendo um café e explicando que nada daquilo estava a venda, que era a decoração dela mesmo! rs).
As lojas vendem, basicamente, objetos para turistas, desde cachecóis para cantar na fria madrugada sem danificar as cordas vocais até delicadas violas feitas em madeira para serem usadas como porta-chaves. Isso, claro, sem falar nas inúmeras camisetas com aqueles dizeres clássicos "Estive em Conservatória e lembrei de você". O diferencial dessas camisetas é que algumas, em vez dessa frase tão batida, colocam trechos de canções de serestas que foram ou serão ouvidas durante a serenata. É um mimo especial e, em geral, barato.
Há também, quase chegando à uma das praças, uma loja que vende CDs. Essa sim vale a pena olhar com calma, principalmente se você gosta de músicas antigas! Há CDs que você dificilmente encontrará em outro lugar. Cantores como Nélson Gonçalves, Sílvio Caldas, Vicente Celestino, Francisco Alves, Cauby Peixoto, só para citar alguns... é uma delícia ficar garimpando novidades (?) que raramente seriam encontradas por essas bandas, nem mesmo pela internet!

Após esse breve passeio, voltamos à pousada para tomar banho e descansar um pouco até umas 21:30 que é o horário ideal para se retornar ao centro, pois dá tempo de fazer um lanche rápido (lembre-se de que o tempo lá tem uma conotação diferente, portanto "rápido" significa por volta de uma hora) e ir até o "Museu da Seresta" observar o início da cantoria que foi o motivo que nos levara até lá.
Quando chegamos naquele mês frio de julho de 2000 éramos quase que os único jovens do lugar ( e olha que já tínhamos quase 30 anos!) e ficamos meio acanhados ali, do lado de fora do museu, ouvindo as músicas e vendo, através de suas janelas, o interior repleto de livros e capas de discos penduradas nas paredes.
Foi então que um senhor muito simpático, chamado José Borges, viu nossa cara de "marinheiros de primeira viagem" e nos abordou para contar a história do museu, da cidade e do movimento chamado "Em cada casa, uma canção". Esse movimento (fundado por ele e pelo irmão Joubert de Freitas, o que eu só vim a saber depois!) consistia em que cada casa de Conservatória tivesse ao lado da sua porta de entrada uma plaquinha de metal com o nome de uma música da preferência daquele morador. As placas não se repetem. São 403! E a cada serenata os músicos param em frente às casas e cantam aquela música, se o morador gostar, pisca a luz de fora da casa 2 vezes. Acho que foi ali que eu me apaixonei por Conservatória! Parecia coisa de filme do século passado! A cidade toda colaborava, tudo era harmônico!
E assim, quando os músicos saíram com suas violas naquela noite enluarada de sexta-feira, cantando canções das quais eu me lembrava de ter ouvido na infância, nós, como todo mundo, seguimos o que parecia um cortejo (e era: um cortejo à lua!) e cantamos junto, sorrindo e esquecendo por duas horas todos os problemas ou infelicidades que pudéssemos ter tido e vivendo uma sensação mágica que nenhuma palavra será capaz de descrever!

A bientôt!

Em tempo: Voltei a Conservatória em 2013 e a  loja de CDs não existe mais e quem quiser comprar Cds antigos tem de ir ao Museu Vicente Celestino, localizado perto da Maria Fumaça, na entrada da cidade.

domingo, 29 de junho de 2008

A música está em todo lugar


Saudações!

Conservatória foi um distrito muito rico nos áureos tempos em que o café era nossa "moeda forte" aqui no Brasil. Havia mais de 100 fazendas que plantavam o café e o escoavam pelo antigo caminho ferroviário que vinha das Minas Gerais e ia para a Corte, na cidade do Rio de Janeiro, de onde seguia para o porto e outras cidades do país. Essa cultura cafeeira utilizava largamente o trabalho escravo em suas lavouras e mesmo na construção de pontos que hoje são ícones do local como o "Túnel que chora", cujo nome se deve às gotas vindas da nascente sobre ele, que tem 100 metros de extensão e por onde trafegava a Maria Fumaça, hoje parada à entrada da cidade como atração turística. Em tempos remotos a Maria Fumaça puxava não somente vagões com a produção de café, mas também com passageiros e foi aposentada em 1960, após quase 80 anos servindo de interligação entre o vilarejo e os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Também datam do século XVIII as construções de algumas casas em estilo colonial (e preservadas até hoje!) e cujas telhas foram feitas ainda nas coxas pelas escravas.

Em 2008 comemoram-se 130 anos de serenatas em Conservatória, desde que Andreas Schimidt, um professor de música, resolveu sair pela noite enluarada tocando seu violino e atraindo espectadores e posteriormente, adeptos. Hoje o distrito conta com pouco mais de 4 mil habitantes, muitos transformaram suas casas em pequenas pousadas que recebem o turista com um aconchego que só é possível em uma cidade do interior. Durante o dia, o turista pode desfrutar de diversas barraquinhas e lojinhas com artesanato local; doces; licores e queijos produzidos na região. Tudo isso brindado por um céu quase sempre muito azul, uma temperatura amena e a possibilidade de ser surpreendido por uma música conhecida em qualquer esquina.

A Bientôt!

Viagem a Conservatória confirmada!


Saudações!

Acabei de receber o email com a confirmação da minha reserva em Conservatória. Daqui a um mês estarei na cidade mais tranquila do estado do Rio de Janeiro.
Na verdade, Conservatória não é uma cidade, mas um distrito do município de Valença e fica no alto de uma serrinha muito simpática, cuja estrada é ladeada de placas com frases pinçadas de músicas famosas de seresta. Aliás, o lugar é famoso exatamente por sua singularidade:
Todos os fins de semana, na sexta-feira, há um encontro no Museu da Seresta (que fica bem no centro, facílimo de encontrar posto que o distrito parece ter apenas duas ruas, uma de ida e uma de volta) por volta das 21:30. Ali reúnem-se todos os cantores e aspirantes a cantores do lugar, além da enorme quantidade de turistas, para fazer o que mais amam: cantar! E apenas cantar!
São músicas de um tempo em que eu nem era nascida; músicas que nos fazem atravessar o túnel do tempo e voltar a um Rio de Janeiro dos anos 20, em que os homens usavam terno para ir à Confeitaria Colombo e as mulheres começavam a encurtar o cabelo numa singela tentativa de igualdade. Eram anos em que podia-se andar na rua sem medo de ser assaltado; em que podia-se acreditar na palavra das pessoas; em que o rádio era o aparelho mais desejado entre as famílias de classe média.
Por volta das 23:00 os seresteiros colocam seus chapéus, penduram seu violão no ombro e dão início à SERENATA AO LUAR, um dos movimentos mais lindos que já vi ! E o mais incrível: totalmente de graça! E lá vão eles, entoando canções de outrora, pelas ruas de Conservatória. Em cada casa há uma placa com o nome de uma canção. Ao passarem diante das casas, caso o morador se agrade do que ouve, existe um código: piscar duas vezes a luz de fora da porta; esse é o sinal para que os seresteiros saibam que aquele morador dormirá feliz ao som das belas músicas cantadas por vozes ora profissionais, ora amadoras.
Em geral o espetáculo dura em média de uma hora e meia a duas horas pelas ruas principais do distrito e termina lá pela 01:00 da manhã no mesmo ponto em que começou. Ao terminar, deixa um gosto de saudade, não apenas das cantigas ouvidas e cantadas com tanto sentimento, mas também de um tempo que passou (um tempo que eu nem vivi, mas do qual sinto imensa falta!).
Contudo o turista não precisa se preocupar, pois no dia seguinte, no mesmo horário, haverá outro encontro, provavelmente com as mesmas pessoas, em geral para cantar as mesmas músicas, mas com uma sensação deliciosa de que está sendo a primeira vez!

A bientôt!

Atualização: Desde o início de 2010 que os encontros para a seresta passaram a acontecer na Casa da Cultura, localizada ao lado da praça da Igreja Matriz. 

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O melhor da viagem é esperar por ela?

Saudações!

Inicio este blog como um misto de caderno de planejamentos e diário de bordo. Aqui estarão minhas expectativas e impressões dos lugares que quero e/ou vou visitar. Haverá também dicas importantes retiradas de livros, revistas e experiências alheias.
Sou daquelas que acredita que quanto mais a gente sabe sobre a cultura e os hábitos de um lugar, mais a gente poderá aproveitar nossa estada por lá.
Minhas viagens sempre começaram em minha cabeça. Algumas já se tornaram uma doce e intensa realidade e as outras...bem, as outras ainda se tornarão!
Tenho certeza de que, com planejamento, estudo e dedicação, minhas próximas viagens serão maravilhosas e eu terei muitas e boas histórias para contar sobre cada um dos lugares fantásticos onde pretendo ir, mas como dizem que "o melhor da festa é esperar por ela", ficarei aqui fazendo planos e anotando toda e qualquer dica que eu julgar preciosa para poder aproveitar o máximo de cada cidade. E como diz o poeta:

" Feliz de quem afaga uma esperança
pois quem um bem espera e nunca alcança
dele goza metade enquando espera!"

A bientôt!
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