Sobre mim

Professora de formação. Viajante de coração.
Meus caminhos pelo mundo são feitos de história, poesia e felicidade. Descubro lugares e me descubro através das viagens.
Como diz o velho ditado: A gente só leva da vida a vida que a gente leva.

Pesquisar este blog

Translate

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma igreja que me levou a Paris

Bonjour!

Há muitos anos, quando eu ainda era adolescente, me caiu nas mãos um livro de capa dura que era um clássico da literatura mundial: "O corcunda de Notre Dame". Eu começei a ler, um tanto desconfiada, pois naquela época, eu ainda não tinha a paixão que tenho hoje pela literatura e chamar um livro de clássico era algo que, definitivamente, espantaria da leitura qualquer adolescente, minimamente, rebelde.
Contudo, começei a ler o livro e, apesar da linguagem ser um tanto estranha para mim, pois continha palavras difíceis e pouco usadas, à medida que eu ia lendo, ia me apaixonando pela história. Em pouco tempo lá estava eu chorando por Quasímodo e torcendo para que ele conseguisse viver seu amor com Esmeralda, embora eu (mesmo sendo uma adolescente romântica) soubesse que era impossível.
O livro terminou, enxuguei as lágrimas e passei algum tempo absorvendo toda aquela linda história de amor. Depois de alguns anos me peguei estudando sobre a catedral que fora o palco dos protagonistas, descobrindo que ela é uma da catedrais mais antigas de Paris em estilo gótico. Aliás, graças a ela, eu aprendi o que era "estilo gótico".
E foi assim, tomada por esse sentimento quase literário, que fui à Paris esse ano e escolhi ficar hospedada em um apartamento bem perto da Notre Dame.
No primeiro dia, depois de desfazermos as malas, ela foi o primeira coisa que eu quis ver na cidade. Torre Eiffel? Arco do Triunfo? Ah, isso fica para o dia seguinte! O primeiro dia é o dia dela! A igreja que me levou até Paris.
Foi assim, meio sem querer, que nos deparamos com ela, ali, imponente e com todo o seu esplendor! Eu sabia que ela era bonita, mas chegar perto da Notre Dame e observar seus detalhes era algo realmente mágico!


Fomos nos aproximando da entrada, e ali estava o portal que simboliza o juízo final. Simplesmente lindo!


Entramos e, logicamente, como não poderia deixar de ser, ela estava lotada! Um pé direito gigantesco! A nave central tem nada menos que 69 metros de altura! E lá em cima: A Rosácea! Tão famosa quanto Quasímodo, aquele vitral é de deslumbrar qualquer mortal!


Demos uma volta por dentro da Igreja e lá encontramos vitrais de cair o queixo...


...candelabros antigos que, embora não sejam mais usados, ainda estão ali preservados...


...maquetes da Igreja (mais tarde eu viria a descobrir a paixão dos franceses por maquetes de seus monumentos)...


...sem falar na aura de mistério, respeito e serenidade que o lugar passa!
Nos dias em que estive em Paris eu sempre dava um jeito de passar na frente da Notre Dame fosse para onde fosse. E na volta, também!
Acabei tirando foto dela de todos os ângulos possíveis...



....e em todos os horários...


Descobri que Paris foi fundada ali em frente, onde há o "marco zero", que é de onde partem todas as medidas da cidade.


Descobri também que ali na frente era um dos locais preferidos dos artistas de rua exporem sua arte e ganharem um trocado...





No último dia, resolvi encarar os 387 degraus e ir ver os gárgulas de perto! Descobri, inclusive, que isso que chamamos de gárgula, na verdade são "quimeras" e só foram colacadas lá em cima no século XIX.


Os gárgulas mesmo, que são da época da fundação da igreja, são aquelas cabeças usadas para escoar a água e, em tempos de guerra, serviam para despejar óleo quente sobre os inimigos.


A subida não é fácil. A escada é pequena, em formato de caracol e a cada etapa, vai ficando mais e mais estreita. Dei a sorte de ser a última do meu grupo (só se pode subir em grupos de 20 pessoas a cada 10 minutos, pois não há espaço para mais do que isso lá no alto)e isso me permitia subir no ritmo que eu quisesse, pois não havia ninguém atrás de mim. Também me permitia olhar aquela escada com mais calma, tocar nas pedras, observar pelas frestas. A cada etapa vencida, um suspiro de felicidade! São três etapas. A primeira de uns 150 degraus leva até a loja, onde há várias lembrancinhas para serem adquiridas.
A segunda, com mais uns 150 degraus, leva até o meio da Igreja, de onde se tem uma vista belíssima e de onde se pode tirar fotos dos gárgulas (ops, quimeras!).


Ali também pode-se entrar em uma portinha para ver o sino maior, chamado de Emmanuel. Aquele mesmo que Quasímodo tocara até ficar surdo!


Mais uns 87 degraus e chega-se ao topo! Dali pode-se ver toda a cidade. A vista é algo deslumbrante! Principalmente para quem leu o livro!


Olhando para baixo é possível ver a praça de onde Quasímodo salva Esmeralda da morte...


O rio sena está ali também e ao longe, a Torre Eiffel, que obviamente não existia no tempo em que Victor Hugo escreveu seu clássico, mas que se harmoniza perfeitamente com a paisagem. Dali de cima da Notre Dame, no último dia de viagem, eu tinha realmente a sensação de que eu estava em Paris!


Fiquei o máximo de tempo permitido. Tirei fotos. Muitas. Mas também guardei lembranças. Sensações que foto nenhuma seria capaz de registrar. Guardei aquele momento de mergulho no tempo, de mergulho na literatura, de mergulho na minha profissão, de lembrança das aulas de história e de lamento por nunca nenhum professor ter me feito ver a história como ela realmente é: viva!
Guardei aquele momento de alegria por me sentir uma professora competente, por mostrar aos meus alunos que um livro, um simples livro, pode ser capaz de transformar a nossa vida e nos transformar como seres humanos!
Desci daquela torre diferente. Não sei explicar o que mudara, mas algo se modificara. Algo que, um dia, foi sonho, acabara de se tornar realidade e isso trazia um novo sentido a tudo!
Á noite, indo me despedir de Notre Dame, pois seria a última vez que eu iria vê-la nessa viagem, havia um show diferente na frente de seus portões. Duas moças que dançavam dança cigana estavam ali se apresentando. Olhei para a mais morena delas e foi inevitável perceber...era a Esmeralda! Em outro tempo, de outra maneira, mas ela estava ali, fechando um ciclo que eu começara aos 14 anos, quando li pela primeira vez "O corcunda de Notre Dame"...

...Certamente, lá de cima, Quasímodo a estava observando...



A Bientôt!

VIAGEM REALIZADA EM AGOSTO DE 2009
Powered By Blogger