Acho que eu me encantei
por Paris muito antes de, de fato, me encantar por Paris. Eu tinha
uns 14 ou 15 anos quando li “O corcunda de Notre Dame” e era ali
que eu estava me apaixonando por Paris sem perceber. A falta de
percepção se devia principalmente ao fato do meu coração
pertencer à Veneza.
Ah, Veneza...
A cidade mais romântica
do mundo que me encantou através de um filme que, curiosamente, era
passado em Paris. O nome do filme? “Um pequeno romance” com Diane
Lane (que bem mais tarde viria a protagonizar “Sob o sol de
Toscana”) e Sir Laurence Olivier. Filme adolescente e até meio
bobo, mas na época, eu também era adolescente e boba, e por isso
me identifiquei completamente com os personagens.
A história é a
seguinte: Dois jovens de 13 anos se conhecem em Paris. Ele, francês.
Ela, americana. Nasce uma paixão entre eles, principalmente pelo
fato de ambos se sentirem diferentes dos adolescentes de sua época.
A mãe dela não aprova o namoro e, ao descobrir que o pai seria
retransferido aos Estados Unidos, ela decide fugir com o rapaz para
Veneza para que pudessem fazer cumprir uma lenda que ouviram de um
velho amigo que conheceram acidentalmente.
A lenda dizia que se
dois amantes se beijassem numa gôndola, sob a ponte dos suspiros,
no pôr do sol, quando tocassem os sinos do campanário, eles se
amariam para sempre.
O filme continua com a
saga dos dois tentando concretizar essa lenda.
É um belo filme,
embora bem açucarado (mas eu adoro filmes carregados de açúcar).
Ali eu descobri Veneza e descobri o óbvio: era a cidade mais linda
do mundo! Passei quase 25 para concretizar o sonho de conhecê-la, e
para ter a plena certeza de que tudo o que eu vira no filme é
verdade: Veneza é uma cidade de sonho!
Contudo, bem antes de
eu vivenciar esse sonho, fui a Paris, assim, meio sem pretensões de
me encantar pela cidade. Na verdade, ela era a paixão da minha mãe
e como eu havia estudado francês, achei que seria boa ideia conhecer
a tal cidade da qual tantos falavam.
Quando cheguei a Paris
e me deparei com o Notre Dame, aquela do livro que eu lera há muito
tempo atrás, quase não contive as lágrimas! Foi uma visão
inesquecível. Foi ali, naquele momento, que Paris virou meu grande
amor! Era como se a literatura, que é algo tão abstrato, pudesse se
tornar concreta ali naquelas paredes, naquelas torres, naquele chão.
Veneza foi uma paixão
(que ainda aquece meu coração vez ou outra), mas amor mesmo eu
sinto por Paris. Aquele lugar para onde quero voltar sempre, aquela
cidade onde me sinto confortável, onde me sinto em casa mesmo sendo
turista. Veneza é uma cidade de sonho e Paris é a cidade real! Uma
cidade onde se pode viver, onde se pode existir!
É claro que eu não
moro em Paris e talvez nunca more, portanto, minha visão é única e
exclusivamente a visão de uma turista que volta lá todo ano ávida
por mais um pouco daquela sensação de felicidade. Não tenho a
visão de uma local e nem sei se quero ter, porque temo que isso tire
um pouco desse encanto, desse deslumbramento tão gostoso de sentir
cada vez que volto à Paris. Ser turista em uma cidade onde me sinto
tão “em casa” é maravilhoso!
Veneza me encantou por
sua peculiaridade. É uma cidade única no mundo, mas Paris me pegou
pelo seu dia-a-dia, e sem que eu percebesse, já estava amando esse
lugar tão mágico, que Wood Allen soube traduzir tão bem em seu
filme “Meia noite em Paris”.
Sou deslumbrada por
Paris sim, mas só quem foi lá e se permitiu sentir a aura da cidade
sabe do que eu estou falando e compartilha secretamente desse
deslumbramento. Quem nunca foi não faz ideia do que é Paris, não
faz ideia do que é andar por aquelas ruas, sentir aqueles cheiros,
ver aquelas cores nas vitrines, nos parques, nas construções. Ir a
paris é poder andar, ao mesmo tempo, no presente e no passado, em
uma cidade super atual que conserva seu fascínio dos séculos
anteriores. Quem nunca foi a Paris só tem duas alternativas:
desdenhar de quem foi ou se render aos encantos da cidade-luz e pegar
o próximo avião em busca do seu universo paralelo.
Boa viagem!