Muita coisa tem acontecido de interessante aqui em Veneza. Umas boas, outras, nem tanto...toda viagem, por mais planejada que seja, sempre tem o seu dia de azar e o meu foi ontem.
Como eu havia escrito aqui nesse blog, há algum tempo, eu comprei ingresso para ver a ópera “Aída” na Arena de Verona e, claro,como acabaria tarde, reservei um pernoite em um albergue da cidade.
Ontem, lá fui eu para a estação de trem de Veneza pegar um trem para Verona, só que a coisa já começou errada, pois acabei comprando bilhete para o trem regional que custa 1/3 do preço, mas demora o triplo do tempo! Ou seja, em vez de eu chegar em Verona em 1h, demorei quase 3h para chegar lá! Fazia um calor infernal e a estação de trem de Verona é muito mal sinalizada. Eu, sendo perdida como sou, vocês podem imaginar que, óbvio, peguei a rua para o lado errado! Depois de andar em círculos uns 20 minutos, consegui me localizar e lá fui eu fazer o check-in no albergue. Toquei a campainha e ninguém atendeu, toquei de novo e nada! Liguei para os telefones que eu tinha pego no site do albergue e a moça que atendeu disse que era engano. Voltei a tocar a campainha e nada! Ou seja, o albergue simplesmente não existe!!!! Portanto, se forem a Verona, jamais reservem o B&B Citadella porque é um golpe!
Resolvi ir até a cidade para trocar meu ingresso da ópera e ver se isso não era golpe também. Ok, a Arena existe, eles trocaram meu voucher pelo ingresso sem problemas, mas eu não tinha lugar para ficar, então voltei até a Estação de trem para achar um albergue no posto de informações ao turista. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que não existe posto de informação ao turista nessa estação!!!!! Todas as cidades que já visitei têm um! Mas Verona não tinha! Eu estava muito cansada e com fome para pensar em qualquer outra alternativa, então, comi no Mc Donald's mais próximo e comprei a passagem de volta para Veneza (dessa vez no trem rápido!). Fiquei mais chateada por perder a ópera do que por perder o dinheiro do albergue. Se eu tivesse achado outro lugar acessível para ficar, nem teria me importado com o lance do albergue, mas como não encontrei, voltei para Veneza, onde me sinto segura e onde tenho um bom hotel para dormir.
Tirei umas poucas fotos de Verona porque, para dizer a verdade, achei a cidade bem sem graça...não sei onde Shakespeare estava com a cabeça para ambientar a história mais romântica do mundo aqui! Não foi à toa que Romeu e Julieta se mataram...
E, para salvar o dia, fui fazer o meu tão esperado passeio de gôndola! Acabei me lembrando de uma descrição sobre a fundação de Veneza que li em uma revista de turismo, cujo autor chamava-se Ronny Hein. Dizia assim:
“ Os vênetos, que não pertencem à família dos peixes (como seria legítimo supor), viveram em terra firme, em cidades como Padova e Verona, por muitos anos. No século 5, contudo, um ataque devastador de guerreiros hunos obrigou algumas comunidades a buscar refúgio nas ilhotas de uma laguna com 55 quilômetros de extensão e 13 quilômetros de largura, separada do Mar Adriático por longas restingas. Protegidos, os refugiados perceberam, então, que as águas plácidas dessa laguna escondiam um solo raso _ e sobre ele começaram a plantar estacas de madeira, que seriam a base da futura cidade.”
E assim nasceu a mais linda cidade do mundo! Assim, como uma alternativa de fuga dos hunos e os vênetos transformaram aquela laguna rasa em sua muralha! Não era preciso murar a cidade para que os inimigos não a invadissem, isso por dois motivos: primeiro porque qualquer inimigo teria que chegar por mar e seria visto muito antes de sua chegada, e segundo porque não era possível navegar pela laguna com um navio muito grande, aliás as gôndolas foram nascidas e criadas em Veneza e sobrevivem até hoje exatamente por isso: era o tipo de embarcação perfeita para os estreitos canais.
Até hoje só pode ser gondoleiro quem é nascido em Veneza, além de ser uma profissão eminentemente masculina (não vi nenhuma mulher gondoleira, embora tenha ouvido falar que existe uma). A gôndola tem mais de 1000 anos e continua sendo fabricada do mesmo jeito, artesanalmente. E seu ofício passa de pai para filho.
Descobri que existem também gôndolas piratas (nem isso ficou de fora da pirataria!) e para não se correr o risco de pegar uma falsa, observe a figura da proa, chamada de ferro pelos gondoleiros. A verdadeira gôndola tem seis ferros, alinhados um embaixo do outro e com um ao lado, eles representam os sestieri (bairros) de Veneza. Além disso, um verdadeiro gondoleiro usa o traje típico, que consiste em camisa listrada, calça preta e chapéu de palha com um laço da mesma cor das listras da camisa. Vai saber quando essa moda começou...
O fato é que os gondoleiros verdadeiros e suas gôndolas são, hoje em dia, um passeio apenas turístico, já que o preço é alto (100 euros por um passeio de 1 hora), mas acho um desperdício ir para Veneza e não aproveitar aquilo que ela tem de único! O passeio é maravilhoso!Veneza vista sob a perspectiva de uma gôndola tem um sabor completamente inusitado! Fiquei encantada com os canais, com a cidade, enfim, o dia que começou ruim, não poderia ter terminado de maneira mais veneziana. Voltei feliz para o hotel com a certeza de que a cidade mais romântica do mundo não é Verona, apesar da história de Romeu e Julieta e sim Veneza!
Arrivederci!
VIAGEM REALIZADA EM JULHO/AGOSTO DE 2010